Por que usar progesterona natural (bioidêntica)

A
terapia tradicional de reposição hormonal (TRH) no climatério e na menopausa está sendo revisada. Até recentemente, a praxe era a prescrição de dois tipos de hormônio – estrogênio (na forma de estrógenos eqüinos conjugados - Premarin®) e uma progestina (acetato de medroxiprogesterona). Mas esse padrão começou a ser questionado, por volta de 1985, pelo médico norte-americano John R. Lee, hoje considerado a maior autoridade em equilíbrio hormonal feminino. O primeiro livro do Dr. Lee sobre o assunto (What your doctor may not tell you about menopause) foi publicado em 1996, vendeu mais de um milhão de exemplares, foi traduzido para o francês e talvez outras línguas (em 9/2004, saiu uma edição revisada e atualizada, com uma tiragem inicial de 1 milhão de exemplares). Depois dessa obra, o Dr. Lee escreveu, em co-autoria com a médica Jesse Hanley, um livro sobre o climatério (What your doctor may not tell you about premenopause) e, mais recentemente, outro livro questionando a abordagem tradicional da medicina com relação ao câncer da mama (What your doctor may not tell you about breast cancer), em co-autoria com o Dr. David Zava, denunciando o que ele chama de “indústria do câncer de mama”.
  

1 - Uma questão de equilíbrio
Segundo o Dr. Lee, em parte por desinformação e em parte por orientação tendenciosa na literatura fornecida pelos fabricantes de hormônios sintéticos, a medicina tem deixado de considerar alguns aspectos fundamentais ao seguir a TRH tradicional. Ele lembra que, quando os ovários começam a diminuir a produção dos hormônios estradiol e progesterona (climatério) e quando essa produção cessa completamente mais tarde (menopausa), o organismo continua produzindo um dos três estrógenos ativos, a estrona, via tecido adiposo. Após a menopausa, com a entrada em cena da estrona, a produção de estrogênio cai para apenas uns 50% dos níveis anteriores. No caso da progesterona, porém, a produção nos ovários cai para zero – a progesterona é produzida pelo chamado corpo lúteo, que se forma no local onde eclodiu o folículo, na ovulação. Como não ocorre mais ovulação na menopausa (e pouca no climatério), não há produção de progesterona. Os problemas do climatério e da menopausa devem-se exatamente a esse desequilíbrio hormonal (50% sobre zero), que o Dr. Lee chama de predominância estrogênica. Então, caso uma mulher necessite fazer reposição hormonal (algumas não precisam), qual é o hormônio que deve ser reposto? Isso mesmo, a progesterona, pois é esse que está faltando.   

2 - Progestina NÃO é progesterona

O segundo equívoco da TRH convencional é considerar progestina como sendo a mesma coisa que progesterona. As progestinas são substâncias sintéticas que apresentam uma configuração molecular similar à progesterona natural e, por essa razão, são aceitas pelos receptores das células como se fossem progesterona. A fórmula da progestina mais usada na TRH (acetato de medroxiprogesterona) é C24H34O4. Mas é muito importante notar a diferença -– a fórmula da molécula de progesterona natural é C21H30O2. Essa diferença no número de átomos de cada substância pode não parecer significativa. Porém,  é por causa disso que ocorrem os problemas comuns na TRH tradicional, como câncer e doenças cardiovasculares (comprovados em recente estudo – ver item 4 abaixo). Isso acontece porque um hormônio sintético modificado, como o acetato de medroxiprogesterona, “escreve” no DNA uma mensagem diferente daquela esperada pelo núcleo da célula. Então, a transcrição dessa mensagem diferente pelo mRNA e a subseqüente expressão dos respectivos genes em ações protéicas, é o que causa todos esses males, geralmente a médio e longo prazos. O mesmo acontece, aliás, com todas as substâncias que mimetizam hormônios, como a genisteína (das isoflavonas), os ftalatos (liberados por certos materiais quando aquecidos, como copos plásticos e mamadeiras), a diosgenina (encontrada no inhame e outros tubérculos), os agrotóxicos (pesticidas e herbicidas), além de muitos outros subprodutos da petroquímica. Quando o médico prescreve a tradicional “dobradinha” estrógenos conjugados com progestina, a paciente passa a receber ainda mais estrogênio (aumentando, assim, o desequilíbrio hormonal via predominância estrogênica) e nenhuma progesterona, tão necessária para devolver o equilíbrio, pois as progestinas agem de forma diferente da progesterona natural.   

3 - Estrogênio & Progesterona
Estrogênio não é um hormônio, mas sim uma categoria de hormônios, sendo os mais conhecidos (chamados de estrógenos ativos) o estradiol, a estrona e o estriol. O estradiol é o mais potente dos estrógenos, e o estriol o mais fraco (porque permanece menos tempo ocupando os receptores, sendo por isso considerado mais seguro). Estradiol e estrona têm a propriedade de se converterem mutuamente um em outro – a estrona pode transformar-se em estradiol e vice-versa, o mesmo não acontecendo com o estriol. 

O estrogênio (que, como já vimos, inclui os 3 principais estrógenos) ativa o gene bcl.2, que é um proliferador de células nos órgãos reprodutores. Se essa proliferação sair de controle, temos o princípio básico do câncer. Já a progesterona natural ativa o gene p53, um conhecido controlador da multiplicação celular. Aliás, é também por isso que o estrogênio nunca deve ser ministrado sozinho, sem o “contraponto” da progesterona, e é também por isso que o estrogênio é sempre contra-indicado para pacientes com história de câncer, próprio ou familiar.  


Esquema da síntese dos hormônios esteróides ou sexuais
:

 

Seqüência básica da síntese dos hormônios esteróides no ovário, testículos e glândulas supra-renais. Cada seta no diagrama representa a função de uma enzima específica. Apenas em alguns casos as ações são reversíveis, como indicam as setas duplas. 
     

4 - O estudo que abalou a terapia tradicional de reposição hormonal
Esse estudo, publicado em 7/2002 no respeitado Journal of the American Medical Association (JAMA), recebeu ampla cobertura da imprensa brasileira que, infelizmente, traduziu a palavra "progestin" como "progesterona"... 

Na única vez em que o estudo menciona a palavra "progesterone" é para considerar que talvez a relação risco/benefício fosse diferente se a aplicação fosse feita via transdérmica, utilizando estradiol e progesterona, que seria a melhor maneira de imitar a fisiologia e o metabolismo normais dos hormônios sexuais endógenos (feitos pelo próprio organismo), obviamente referindo-se à progesterona natural e não a progestinas. Veja o que diz esse trecho: "It remains possible that transdermal estradiol with progesterone, which more closely mimics the normal physiology and metabolism of endogenous sex hormones, may provide a different risk-benefit profile." 

O estudo foi projetado para durar 8 anos e meio e pesquisou 16.608 mulheres na menopausa e com úteros intactos, com idades entre 50 e 79 anos, que foram recrutadas por 40 centros clínicos dos EUA, entre 1993 e 1998. Porém, o estudo foi interrompido em 31 de maio de 2002, faltando ainda cerca de 3 anos para completar o prazo previsto. A razão dada para que o estudo fosse abreviado para 5 anos em vez de 8 foi "os riscos nesse período excederam os padrões previstos". Ou seja, tantos foram os casos de câncer e doenças coronárias/cardíacas, que acharam melhor parar antes que fosse tarde demais (e anunciar logo os resultados). 

No estudo, foi registrado um excesso de doenças cardiocoronárias e câncer da mama, além de derrames, embolismo pulmonar, câncer do endométrio, câncer colo-retal, fraturas de bacia, e morte por outras causas. Cada mulher recebeu 0,625 mg/dia de estrógenos eqüinos conjugados (Premarin®), mais 2,5 mg/dia de acetato de medroxiprogesterona (uma progestina), ou um placebo.  

Resumidamente, a conclusão do estudo foi de que OS RISCOS DA REPOSIÇÃO HORMONAL COM ESTRÓGENOS SINTÉTICOS E PROGESTINAS (substâncias que imitam a progesterona natural) SÃO MAIORES QUE OS BENEFÍCIOS. 

O estudo em si não traz nenhuma novidade, pois pesquisas anteriores (inclusive publicadas no mesmo JAMA) já haviam chegado às mesmas conclusões. O furor causado por esta pesquisa talvez se deva à sua importância, considerando-se a sua impecável metodologia, tamanho da amostra e longa duração. Ver íntegra em  http://jama.ama-assn.org/issues/v288n3/ffull/joc21036.html#a0 

   

5 - Efeitos do estrogênio e da progesterona no organismo da mulher: 

Efeitos do estrogênio
Efeitos da progesterona
Cria um endométrio proliferativo Mantém um endométrio secretor
Causa estimulação dos seios Protege contra o seio fibrocístico
Aumenta a gordura corpórea Auxilia no uso da gordura como energia
Retenção de sal e de líquidos Diurético natural
Depressão e dores de cabeça Antidepressivo natural
Interfere nos hormônios da tireóide Facilita a ação dos hormônios da tireóide
Aumenta os coágulos no sangue Normaliza a coagulação sangüínea
Diminui a libido Restaura a libido
Enfraquece o controle do açúcar no sangue Normaliza os níveis de açúcar no sangue
Perda de zinco de retenção de cobre Normaliza os níveis de zinco e de cobre
Reduz o nível de oxigênio em todas as células Restaura a nível adequado o oxigênio celular
Aumenta os riscos de câncer do endométrio Evita o câncer endométrico
Aumenta riscos de câncer da mama Ajuda a prevenir o câncer da mama
Restringe um pouco a função dos osteoclastos Estimula a construção óssea via osteoblastos
Reduz o tônus vascular Restaura o tônus vascular normal
Aumenta riscos de doença na vesícula biliar Necessária para a sobrevivência do embrião
Aumenta o risco de doenças auto-imunes Precursora dos corticóides

 
6 - Outras indicações para a progesterona natural (bioidêntica)
O Dr. John Lee e seus seguidores prescrevem a progesterona natural (bioidêntica), em forma de creme transdérmico, para tratar muitos outros males, todos decorrentes do desequilíbrio hormonal (com predominância estrogênica): 

  • Sintomas típicos do climatério e da menopausa:
  • - Ondas de calor
    - Problemas da pele
    - Queda de cabelo
    - Dores de cabeça
    - Perda de memória
    - TPM (tensão pré-menstrual)
    - Perda da libido
    - Aumento de peso
    - Osteoporose
  • Endometriose - Consulte seu médico e o respectivo artigo em <www.novatrh.net>
  • Osteoporose - Para prevenção e reversão. 
  • Câncer feminino (mama, útero, endométrio, ovário) - Prevenção e tratamento.
  • Seios fibrocísticos e ovários policísticos.
  • Artrite reumatóide.
  • Mialgias - Reconstitui a bainha de mielina, que protege as células nervosas.

7 - Por que usar um creme transdérmico
Ministrar a progesterona natural por via transdérmica é preferível à via oral, pois a progesterona é absorvida de forma rápida e eficaz pela camada de gordura subjacente à pele (os hormônios esteróides/sexuais são lipossolúveis, ou seja, solúveis em gordura), passando daí diretamente aos vasos capilares e entrando na corrente sangüínea. Quando ministrada via oral, mais de 80% da progesterona é perdida no processamento pelo fígado, além de gerar inúmero metabólitos (subprodutos) indesejáveis nesse processo. 

8 - Efeitos colaterais
A progesterona natural (bioidêntica) via transdérmica não apresenta efeitos colaterais quando usada em doses fisiológicas (entre 20 e 24 miligramas ao dia). Em megadoses, como no tratamento do câncer feminino, TPM exacerbada, endometriose, ovários policísticos e seios fibrocísticos, podem ocorrer sintomas de sonolência e/ou de predominância estrogênica nas primeiras semanas, pois a progesterona também estimula os receptores de estrogênio. Os sintomas desaparecem com a diminuição das doses e/ou volta do equilíbrio hormonal.     

9 - Onde encontrar o creme
Aqui no Brasil, somente em farmácias de manipulação (em alguns países pode ser comprado até pela Internet). Em princípio, qualquer farmácia de manipulação pode fazer o creme. Segundo o Dr. John Lee, porém, um bom creme não deve conter substâncias consideradas prejudiciais à saúde (propileno glicol ou parabenos), deve ser do tipo mais simples possível (não precisa "acessórios" como aloe vera, vitamina E, etc), e não deve conter óleo mineral (petrolato), pois ele prejudica a absorção da progesterona. Além disso, o usuário deve certificar-se de que o princípio ativo é mesmo progesterona bioidêntica (C21H30O2) micronizada, padrão USP. Em caso de dúvida, o usuário poderá pedir que a farmácia mostre uma cópia do laudo técnico fornecido pelo importador.
 

10 - Mais informação: 

Livros -
  • What your doctor may not tell you about menopause - Dr. John R. Lee (Warner Books, 2004, 530 páginas, ISBN 0-446-61495-5);
  • What your doctor may not tell you about breast cancer - Dr. John R. Lee, com David Zava e Virginia Hopkins (Warner Books, 2002, 444 p, ISBN 0-446-67980-1);
  • Progesterona natural - um hormônio que você e seu médico precisam conhecer - Dr. John R. Lee, trad. de Dinah de Abreu Azevedo (Ed A Senhora, SP, 2033, 192 pág., ISBN 85-88549-02-6), http://www.asenhoraeditora.com.br
  • A menopausa e os segredos dos hormônios femininos - Dr. José Carlos Brasil Peixoto, site http://www.umaoutravisao.com.br, 2004, 104 pág., ISBN 85-87455-54-0);
  • A verdade sobre reposição hormonal - médicos Lair Ribeiro, Roberto Cesar Leite e Maria Lúcia Nogueira da Silva (Ed. Planeta do Brasil Ltda, São Paulo, 2003, 206 páginas, ISBN 85-7479-705-7).
Internet -


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